sexta-feira, 19 de setembro de 2008

É o que dá passar horas a transcrever entrevistas.

Descobri hoje ao fazer mais uma transcrição que o meu cérebro não funciona mal de todo. (pois.) Quando ouço uma frase longa apanho em primeiro lugar a ideia e depois as palavras-chave. Digo isto porque muitas vezes coloco as palavras-chave em lugares aos quais elas não pertencem, mas que não alteram por isso o sentido da frase.
Ex:
O que escrevi:
"Porque o primeiro dia é sempre estranho, chegarem a um espaço complicado sem conhecerem as condições"
Correcta:
"Porque o primeiro dia é sempre complicado, chegarem a um espaço estranho sem conhecerem as condições"


Ai, fim de semana à porta e eu que nunca mais saio do estágio.

Dia 10

Hoje o dia começou relativamente qualquer coisa. Isto não significa absolutamente nada pois o dia nada tinha de especial até eu ter caído no meio do chão, num bocado de passeio entre duas passadeiras. Foi um aparato imenso porque estava com uma mala e dois sacos, cabelo esvoaçante e mão esfolada. Oportunamente estava a passar uma ambulância que parou e me perguntou se estava bem. Para lá do ridículo e do cabelo desalinhado, bem obrigado.
Cheguei ao estágio e as bosses ainda não tinham chegado, verdade é que cheguei antes das 9h - desnecessário - mas aproveitei para tomar o pequeno almoço que não fora comido em casa.
O dia de trabalho lá começou com as más notícias do costume. A que mais me escandalizou foi o facto de no Cascais Shopping, uma firma de restauração contractou uma Srª e quando lá se dirigiu, no seu primeiro dia de trabalho, foi-lhe dito "Desculpe, mas aqui não aceitamos pretas". Fiquei absolutamente agoniada com esta situação, e o mais triste é que não posso fazer nada porque o contracto apresentava uma cláusula para um período de experiência durante um mês e em tribunal poderiam alegar que a dissolução do contracto resulta desse período.
Para além disso há um caso de saúde pública perto da Quinta do Conde, onde existem cerca de 100 animais (entre cabras, ovelhas e cães) todos juntos, fechados num espaço muito reduzido e alimentam-se de outros animais que por ali perecem, sucumbindo aos maus cuidados. Isto indigna-me quase tanto como a questão que realcei anteriormente porque adoro animais e custam-me imenso estas situações. Este caso já está no entanto a ser seguido e espero que se resolva em breve. Aproveito por isso para divulgar aqui um blog que deverão consultar:
http://www.patavermelha.blogspot.com/
Este projecto promove a entrega de medicamentos a diversas associações, canis, etc. E a ajuda nunca é demais.
Para além disto tudo, um rapaz foi posto fora de casa pelo padrasto, a quem não agrada os 3 cães do rapaz. Há cerca de 3 semanas dorme num banco de jardim, na Alameda, em Lisboa. Não está disposto a desfazer-se dos cães, ou pelo menos, não sem encontrar um lar apropriado. Esta história faz-me lembrar um sem-abrigo que via muito, o ano passado e há dois anos, na Baixa da cidade. Andava sempre com seis ou sete cães, com a particularidade de que eram todos brancos (sujo). Não o vejo desde o Natal. Que será feito dele?
Sou uma pessoa optimista e vou ter de continuar a sê-lo embora seja difícil - mas inevitável - nesta profissão. O bom da minha primeira secção de estágio é saber tudo do que se passa em todo o lado. E o bom é o mau também.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A cor azul

Eu tenho um grave problema. Chama-se azul. O ecrã do meu computador assume várias vezes (durante demasiado tempo ultimamente) um tom de azul que me anda a deixar maluca. Hoje aproveitei todos os bocadinhos em que a minha orientadora não estava para me apoderar do dela e evitar ver a vida azulada. Os colegas riem-se e dizem para ir fazendo back-ups porque o computador já anda a ameaçar pifar....Eu lá vou obedecendo e esperando em segredo que dê o berro rápido!
Enfim.

Mudando de assunto, sempre soube da existência de um mito que versava sobre o início de um texto. O custoso é a primeira frase – ouvia dizer. Mas nunca o senti de forma marcada na pele. No entanto, hoje ao escrever um artigo, e depois de terminado o terceiro parágrafo, bateu-me. Não, não foi o parágrafo que me bateu. Apercebi-me de que estava a ser extremamente difícil arranjar uma forma de começar o quarto. O que é que se pode depreender disto? Que eu só começo os textos ao quarto parágrafo.

Sem mais a acrescentar...

Dia 9

Não é fácil escrever o que quer que seja depois de ver o documentário autocarro 174. Interrogo-me como será ser estagiário num órgão de comunicação social brasileiro, em que as notícias de morte, sequestro, suicídio, violação são tão vulgares que só os casos extremos são notícia. Que vontade de pegar nestas crianças todas e dar-lhes um colo, um abrigo, pegar neste país e pô-lo de bem consigo mesmo...
Bem, por cá suicidou-se outro GNR, mas no meu ocs não vai ser notícia. Não que não interesse. Pelo contrário. Mas noticia-lo dá a conhecer às restantes pessoas o caminho tomado não só por um, mas por dois (a juntar aos seis do ano passado), e quem estiver mais neste desespero pode encontrar na solução deles, uma solução para si também.
As pessoas continuam a queixar-se das reformas na Educação, nomeadamente ao nível do Ensino Especial, onde os apoios foram retirados e se promove uma integração forçada das crianças em ambiente regular. Outros pedem casas, outros querem que lhes resolvamos a vida, outros só precisam de desabafar. E eu vou ouvindo, escrevendo, agendando o que vai ser notícia amanhã, depois...
Hoje surgiu também uma outra questão. Disse-me um colega boss que temos de aproveitar o nosso tempo por lá de forma muito preciosa, porque acaba em menos de nada. Compreendo isso e sei que estou a aprender mais sobre o funcionamento de um ocs do que em três anos de faculdade, mas pergunto-me, como aproveitar para aprender mais, saíndo às 20h30?
Como aproveitar para agendar a vida do mundo, quando a nossa fica para trás?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

"É o luxo em post!"

Logo de manhã o meu primo foi chamar-me, já estava em pulgas para ir para a escola. Admirável mundo novo, ainda. De uma forma muito saudável e muito suave tenho saudades dessa leveza de espírito, dos 85% de convívio e os 15% de estudo/trabalho. Agora as percentagens mudaram um bocadinho e há uma nova variante: o cansaço, que traz muitas vezes as amigas frustração e desilusão.

Depois de deixarmos o petiz na escola, fomos à feira. Aquilo é giro, é igual às outras feiras todas. Confusão, gritos e q.b. de boas oportunidades. É sempre inspirador ouvir os pregões das ciganas, muitas vezes (algumas por acidente!) bem conseguidos. Dou-vos um exemplo: "10 euros, 10 euros (repetem sempre o preço para os mais distraídos não ficarem sem saber!) É o luxo em peça!" Até olhei duas vezes para a senhora... Sinceramente acho que aquilo passou ao lado da maioria das pessoas à minha volta, mas eu achei tão peculiar que fiquei impressionada e dei por mim a esboçar um sorriso.

Já na agência tivemos o privilégio de ver o filme da ecografia da minha orientadora, estivemos aproximadamente 6 minutos encantados com dedinhos e perninhas a preto e branco no ecrã do computador. Mas foi engraçado, eu nunca tinha visto uma e adorei!
A tarde foi passada, em grande parte, a fazer uma transcrição de uma entrevista, o que me valeu 4 horas a ouvir um Chefe e ficar com os ouvidos a latejar!

Por fim, é importante referir que hoje estiveram a remodelar a escadaria. Agora temos um estrado escuro de madeira a substituir o tapete vermelho que se estendia pelas escadas de mármore.E de cada vez que descia ou subia, os dois senhores seguravam o estrado de madeira para eu pisar e passar, haja luxo! Ou se preferirem: É o luxo em escada!

Dia 8

O meu pai nunca quis que eu tirasse a carta.
Para além dos possíveis perigos que daí adviessem, alimentara durante anos uma imagem idilica dos jornalistas sem carta [ou sem fazer uso dela] que iam para todo lado de transportes públicos [muito BE] ou de Táxi [muito pouco BE, supostamente]. Ora, é tudo muito romântico em sonhos ou no papel; na prática, como hoje, o dito jornalista teria que ter um episódio psicótico com uma jovem sinistra de cabelos negros, franja cortada à altura dos olhos que não parava de olhar para ele [mim], não revelando qualquer pudor nem com os meus longos suspiros, ou olhares directos e claramente incomodados. Depois teria de ser esborrachado nos estreitos corredores de um autocarro apinhado de jovens que regressam à escola. Depois o seu dia melhoraria [melhorou] um pouco quando visse um esquilo a atravessar a estrada e a passar para uma pequena zona de Pinhal, em plena Lisboa!!! E aí pensaría "afinal isto não está assim tão mal..."
O dia foi, de resto, extenuante. Não parámos um segundo, almoçámos tardíssimo, e quando o carinho passou à tarde ainda tivemos de ouvir um ilustre colega jornalista dizer "não percebo porque é que os estagiários têm acesso ao carinho". Estupidamente sorriu julgando que isso apagaria a ignorância das suas palavras. E aí pensei que gostaria de ter aprendido algo com a sinistra do autocarro.
À parte disto, existem crianças em Felgueiras a ter aulas no exterior (sim, na rua mesmo) porque a escola não tem capacidade para o número de alunos que tem, e os pré-fabricados que lhes prometeram não chegam em breve. Mas para o Sr. Engenheiro e PM? [? interrogação com ênfase no engenheiro] e para a Sr.Ministra da Educação [? interrogação com ênfase na Educação] o regresso às aulas foi UM SUCESSO! Se é assim, então ficamos todos muito mais descansados. Os diplomas de mérito estão todos entregues, interessa lá que quase 50 mil professores não tenham sido colocados? Interessa lá que existam escolas sem professores, outras com os docentes incrivelmente sobrecarregados, outras sem funcionários, outras sem condições? As queixas e denúncias que recebemos diariamente relativamente ao estado da educação e (in)segurança no nosso país são já tantas que temos de resumi-las aos casos mais insólitos, degradantes e inadiáveis.
Resta-nos suspirar e fazer a nossa parte.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Palavras pequeninas

A manhã não foi lá muito agradável. A orientadora fez-me bastantes reparos num texto que eu tinha feito e custou-me um bocado - ela não foi agressiva, mas fiquei triste comigo mesma. Desiludida. Vinguei-me nas compras. Um cinto, um casaco (mangas), uma camisola e uns sapatos.

Já ao fim da tarde, em pesquisa para um trabalho sobre a baquelite, descobri uma das maiores palavras que eu já tinha visto:

polioxibenzimetilenglicolanhidrido, trata-se da junção do fenol
com o formaldeido (aldeído fórmico), que forma um polímero chamado polifenol. 34 letras!

Mas depressa percebi que isto até nem era nada, a maior palavra portuguesa é:

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, que define uma pessoa que tem uma doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas. Este monstruoso vocábulo de 46 letras foi pela primeira vez registado no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa em 2001. Em segundo lugar, com 45 letras, temos a designação da mesma doença: Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose.

Num honroso terceiro lugar temos a palavra que me levou ao choro de tanto rir. Não pela sua composição em sim, mas pela definição. A Hipopotomonstrosesquipedaliofobia é uma doença psicológica que se caracteriza pelo medo irracional (fobia) de pronunciar palavras grandes ou complicadas.

33 letrinhas só para aqueles que têm medo de pronunciar palavras grandes - que é para não serem maricas! Porque nem que quisessem não conseguiriam nomear a doença de que sofrem...Agora pergunto: só eu é que acho isto incrivelmente irónico?

A palavra adorada pelo Diogo Infante está em quarto com 29 caracteres: Anticonstitucionalissimamente. E o senhor Dr. Oftalmotorrinolaringologista fica em quinto com apenas 28 letras.

Peanuts quando comparadas com a maior palavra do mundo que é inglesa e tem 189.819 letras. Sim, sim, leram bem: cento e oitenta e nove mil, oitocentas e dezanove letrinhas. É a designação química de uma proteína conhecida por Titin: comprova aqui.

Dia 7

Este horário mata-me. Ainda estou na redacção. Os saudáveis alimentos que trouxe para o dia já se esgotaram, bem como as delícias do carinho. Resultado: estou a comer mm's.
Folgo em informar que a notícia da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto já saiu, portanto o mundo já sabe. Hoje, em Setúbal, um polícia prendeu, sem razão aparente, um homem portador de deficiência. Segundo a fonte, para o efeito estavam presentes 3 carros e uma carrinha da Polícia de Intervenção. Caso para perguntar, onde pára a polícia quando estão a assaltar bombas de gasolina, pessoas e casas? Está a prender um deficiente em Setúbal.
Um GNR pôs hoje termo à vida, e as crianças que têm nascido nos últimos dias não estão a receber a vacina da BCG porque o Ministério da Saúde deixou acabar. Todo o distrito de Lisboa está sem vacinas para administrar aos recém nascidos. O Infarmed não se responsabiliza, supostamente, porque não receberam nenhuma encomenda do Ministério. As linhas de saúde tentam descansar os pais com um "ahhh, mas isso pode tomar durante todo o 1º mês de vida, que não tem problema". Sabe-se lá porquê (...) este facto não parece descansar os pais.
As queixas das escolas continuam, umas não abrem, outras abrem com deficiências, sem transportes assegurados, etc, etc, etc.
O insólito do dia foi a história de um senhor cujo automóvel foi roubado há dois anos. Pouco tempo depois foi apreendido pela GNR das Caldas da Rainha e o Ministério Público exigiu: ponto1. (Para além do carro estar em nome da esposa do Sr. e ter apresentado queixa aquando do furto), a factura da compra do automóvel - por acaso tinham-no comprado num stand e tinham o recibo). ponto 2. um extracto bancário que atestasse o débito do valor do automóvel. De risos, no mínimo.
Daqui e por agora, nada mais a agendar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Só mais um.

O dia começou atribulado: dentro de um autocarro com um condutor desvairado que, pela certa, gostava de ter participado no Euromilhões Pax Rally. O ideal para acordar! Entre uma ou outra curva violenta e aquelas travagens de esfarelar neurónios, lá ia eu a ouvir músicas boa-onda de sotaque brasileiro e a tentar sobreviver.

Manhã com algum trabalho e povoada de risos e lágrimas aquando da recepção de um e-mail, aqui da Rivka, com as melhores fotos dos jogos olímpicos deste ano! Foi a gargalhada geral lá no sotão,perdão, lá na penthouse!

Entretanto tive de ligar a um senhor para validar um texto:

- Bom dia, lembra-se de mim? Queria validar o texto consigo...

Uma voz ensonada atende do outro lado:

- Ah então a minha mulher não lhe enviou as fotografias?

E eu já a ficar atrapalhada....

- Ah não, não, mas estou a ligar-lhe por outra razão...É uma boa altura para lhe ler então o texto?

Aquela voz de quem ainda está enrolado nos lençóis quentes.

- Ahhhh...não, lá p'as 16h00 pode ser?

- Sim, sim...bom dia.

E depois de acordar um Sr. com um telefonema (o que é sempre bom!), voltei ao trabalho.

Durante a tarde, lá consegui falar com o Sr. acordado e, depois disso, aconteceu uma coisa gira.
Vi a minha orientadora levantar-se e dirigir-se à garrafa de licor. Como ia a falar pensou que ninguém reparava, mas não conseguiu abrir a garrafa. Fui ajudá-la e pimba, desapareceu um centímetro do líquido.

Mais tarde vi outra colega com um copinho na mão e zás, mais uma golada no licor. É uma festa!
Qualquer dia tenho que trazer mais!

Já perto das 20h00 e quando dei por mim a escrever coisas como "conicidências" e "apadtadas", achei por bem dar o dia por terminado e vir para casa...


Over and out!

Dia 6

Num dia de estágio relativamente calmo congratulo-me:

"Em média, os alunos das Universidades vão pagar mais 4,86 % de propinas do que no último ano lectivo"

Perante isto, UFFF! Melhor que a minha reacção, só mesmo a dos meus pais. Depois de um fim-de-semana descansado, lá chegou a 2ª-Feira, e o início da minha segunda semana de estágio. Escolas e mais escolas que, ao contrário das promessas do Governo, não abrem hoje (ou se abrem é só para dizer que vão fechar), a maior vergonha de sempre na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto que devido a um erro informático (!!!!!) se esqueceu de enviar os pré-requisitos de alguns alunos e por isso dizem não haver vagas para eles - quando têm media para entrar -, assaltos, patrões barricados, e mais e mais e mais.
O autocarro não passou a horas, irritou-me. No mp3 tocavam músicas que gritam FÉRIAS CALOR MAR e o ar saturado que se respirava - mal - no amarelinho da Carris amoleceu-me. Dei por mim a dar cabeçadas na atmosfera...E assim sim, não seria um estágio verdadeiro e extenuante se não adormecesse no autocarro.

domingo, 14 de setembro de 2008

Impossível não sorrir! (Post de Domingo)

Deolinda - Fado Toninho

É o remédio perfeito para as pontadas de tristeza/aborrecimento que se possam sentir em fins-de-semana solitários! A voz da Ana Bacalhau é deliciosa, o ritmo é divertidíssimo!

E agora trabalhar a ouvir isto? AHAHAHAH

Não, vá. O que tem de ser tem muita força.