quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Dia 8

O meu pai nunca quis que eu tirasse a carta.
Para além dos possíveis perigos que daí adviessem, alimentara durante anos uma imagem idilica dos jornalistas sem carta [ou sem fazer uso dela] que iam para todo lado de transportes públicos [muito BE] ou de Táxi [muito pouco BE, supostamente]. Ora, é tudo muito romântico em sonhos ou no papel; na prática, como hoje, o dito jornalista teria que ter um episódio psicótico com uma jovem sinistra de cabelos negros, franja cortada à altura dos olhos que não parava de olhar para ele [mim], não revelando qualquer pudor nem com os meus longos suspiros, ou olhares directos e claramente incomodados. Depois teria de ser esborrachado nos estreitos corredores de um autocarro apinhado de jovens que regressam à escola. Depois o seu dia melhoraria [melhorou] um pouco quando visse um esquilo a atravessar a estrada e a passar para uma pequena zona de Pinhal, em plena Lisboa!!! E aí pensaría "afinal isto não está assim tão mal..."
O dia foi, de resto, extenuante. Não parámos um segundo, almoçámos tardíssimo, e quando o carinho passou à tarde ainda tivemos de ouvir um ilustre colega jornalista dizer "não percebo porque é que os estagiários têm acesso ao carinho". Estupidamente sorriu julgando que isso apagaria a ignorância das suas palavras. E aí pensei que gostaria de ter aprendido algo com a sinistra do autocarro.
À parte disto, existem crianças em Felgueiras a ter aulas no exterior (sim, na rua mesmo) porque a escola não tem capacidade para o número de alunos que tem, e os pré-fabricados que lhes prometeram não chegam em breve. Mas para o Sr. Engenheiro e PM? [? interrogação com ênfase no engenheiro] e para a Sr.Ministra da Educação [? interrogação com ênfase na Educação] o regresso às aulas foi UM SUCESSO! Se é assim, então ficamos todos muito mais descansados. Os diplomas de mérito estão todos entregues, interessa lá que quase 50 mil professores não tenham sido colocados? Interessa lá que existam escolas sem professores, outras com os docentes incrivelmente sobrecarregados, outras sem funcionários, outras sem condições? As queixas e denúncias que recebemos diariamente relativamente ao estado da educação e (in)segurança no nosso país são já tantas que temos de resumi-las aos casos mais insólitos, degradantes e inadiáveis.
Resta-nos suspirar e fazer a nossa parte.

1 toque(s) no(a) estagiário(a):

Hariska disse...

Só aconselha os transportes públicos quem não os usa.

E sim as sinistras que te ensinem os olhares mais aterradores para lançar a essas pessoas que espezinham os estagiários!